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O desenvolvimento em
qualquer área da actividade humana, não pode nem deve ser aferido no curto prazo. Não
podemos esperar que uma intervenção hoje realizada sobre a realidade mostre resultados
favoráveis amanhã. Para compreendermos isso basta que pensemos no desenvolvimento de um
atleta. O efeito cumulativo da carga produz adaptações após a repetição sistemática
de estímulos ao longo de períodos mais ou menos alargados de tempo.
Um atleta não se constrói de um dia ou de um ano para o outro. Com o desenvolvimento da
modalidade passa-se mesmo.
Se fizermos, por exemplo, o exercício de comparação do atletismo realizado nos o
atletismo de hoje verificamos que a situação se alterou significativamente. Temos hoje
um quadro competitivo para todos os escalões etários, incomensuravelmente mais denso e
mais competitivo. Temos mais treinadores e em média mais conhecedores das matérias
relativas ao treino desportivo. Temos mais atletas e atletas melhor formados. Temos mais
pistas embora ainda muito longe da quantidade que julgamos necessária para o território
nacional. Temos associações com os seus próprios planos de desenvolvimento lutando
contra uma realidades social e desportiva adversa, dominada pelo futebol. O treinador tem
hoje a possibilidade de se actualizar através do acesso a fontes de informação há uns
anos inimagináveis.
Fala-se de crise tal como ontem se falava de crise. Concordo. Estamos em crise. Mas
ninguém pense que alguma vez possamos pensar não estamos em crise. A crise é uma
característica dos organismos (e organizações) que têm vida, que se movimentam. O
crescente número de medalhas internacionais obtidas pelo atletismo português torna-nos
mais exigentes. Quando sentimos que é possível ganhar àqueles que sempre nos ganharam
sentimos a frustração como não a sentíamos quando ganhar internacionalmente era uma
miragem que rapidamente se desvanecia da nossa mente. Estar mais perto dos melhores
faz-nos mais exigentes e mais implacáveis. Por isso também podemos dizer que estamos no
bom caminho. Ambição e descontentamento andam normalmente de braço dado. É o seu
"casamento" que gera o avanço. O seu divórcio é provocado pela intromissão
do desalento da acomodação e da desistência.
A revista "Treino Total" é mais um contributo para todos os que não se
acomodaram ao conhecimento que têm de preparação desportiva. Referimo-nos aos leitores
e aos autores dos artigos nela incluídos. Esta revista bem pode considerar-se o espelho
da nossa evolução. Assim haja a coragem e a generosidade de trazer à luz do dia os
conhecimentos que julgamos úteis para partilhar com outros colegas treinadores.
A presente edição traz-nos contributos de vários treinadores portugueses com sucesso
nas disciplinas em que realizam o seu trabalho. Gostaríamos que a estes trabalhos se
sucedessem outros que os criticassem e complementassem.
Sendo o treino um domínio científico com caracter multidisciplinar, também a revista
"Treino Total" está aberta aos contributos oriundos de diferentes áreas do
conhecimento. Treino físico, técnico, táctico, psicológico, Biomecânica, Medicina,
Estatística, História, Nutrição, Sociologia são apenas alguns exemplos de disciplinas
úteis ao treinador e, portanto, bem vindas à nossa (vossa) revista.
Esta revista tem a porta aberta a todos os que desejarem apresentar o seu trabalho e a sua
experiência.
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